[MÚSICA] O que é uma habilidade política. É importante a gente caracterizar isso, porque muitos momentos se pensou na habilidade política como uma habilidade de politicagem, de fazer coisas negativas, não é? E, na verdade, essa habilidade é essencial para as pessoas transitarem nessa arena política. Muitas vezes esse trânsito na arena política vem de uma coisa muito intuitiva. Você percebe a reação das outras pessoas às suas falas, você percebe quando você está acertando, quando você está errando. Mas é muito interessante quando a gente tem alguns parâmetros que nos ajudam a nós diagnosticarmos se estamos realmente indo bem, se a gente poderia ir melhor. Ou às vezes percebemos coisas que intuitivamente a gente não está percebendo e, de repente, exame de consciência faz com que a gente perceba que a gente poderia estar fazendo melhor alguma coisa que a gente aparentemente está fazendo bem. Então, começa a vir aqui uma primeira questão: a gente pode aprender a habilidade política? Quer dizer, isso se aprende ou algo que nasce com a gente e a gente vai levando do jeito que dá? A gente tem visto, a nossa experiência, a gente vem trabalhando com isso já a algum tempo. A gente percebe que sim. É possível a pessoa aprender. Não há curso: venha fazer aqui curso de desenvolvimento de habilidades políticas, mas é algo muito associado ao que nós já comentamos aqui, de você desenvolver habilidades comportamentais, de você perceber e tendo consciência de pontos que você precisa ajustar, precisa melhorar. Essa é uma primeira questão. Essa habilidade política pode ser aprendida ou não. A outra questão é: se essa pessoa tem essas habilidades políticas, e hoje eu tenho questionários, instrumentos para verificar se a pessoa tem ou não tem, eu posso dizer que essa pessoa que tem essas habilidades políticas vai ser bom gestor? Essa pessoa vai transitar bem na arena política? Intuitivamente a gente diz que é provável que sim. Mas a gente não tem ainda pesquisas, a gente não tem trabalho consistente que mostre que sim, que isso é preditor de que a pessoa vai ser bom articulador dentro da arena política. Eventualmente a constatação de que essa pessoa tem habilidades políticas pode ser elemento interessante quando a gente pensa potenciais gestores ou pessoas com mais potencial para atuar de uma forma mais adequada num ambiente político. Será que existe alguma influência entre essas habilidades políticas e a capacidade da pessoa de influenciar outras pessoas, de construir uma boa reputação dentro das arenas políticas. Novamente as nossas pesquisas indicam que sim. Aparentemente a gente tem aí tem uma relação extremamente positiva de legitimidade, de sucesso da pessoa na arena política na medida que ela tem essas habilidades políticas. Então, nós fomos entrando contato com essas teorias, esse pessoal, na primeira década dos anos 2000, e, na segunda década dos anos 2000, nós fizemos pesquisas aqui no Brasil usando esses referenciais. E constatamos que eles também são válidos para a nossa realidade brasileira e vimos que eles são indicativo importante de sucesso desses gestores dentro da arena política. Quando a gente fala da habilidade política, o que é exatamente a habilidade política? É o quanto que você consegue compreender os outros. O quanto você consegue compreender o contexto político ali que está, no qual você está inserido, e a partir daí você consegue influenciar. Você consegue ajudar as pessoas também a compreenderem, se não estão compreendendo. Você percebe ali conjunto de necessidades que estão emergindo ali no grupo e consegue ajudar o grupo a trabalhar esse conjunto de necessidades, de expectativas. Isso é habilidade política. Essa percepção, essa compreensão, e a sua capacidade de ajudar as outras pessoas. A sua capacidade de ajudar a organização. Quando nós pegamos esse material de pesquisa dos Estados Unidos, eles apontavam quatro grandes habilidades que haviam feito uma diferença significativa na atuação dos gestores e nós replicamos essa pesquisa aqui no Brasil e encontramos resultados muito parecidos. Uma habilidade, porque esses pesquisadores encontraram, é o que eles chamam de astúcia social, ou seja, o quanto que você consegue ter empatia com o outro, de você perceber o outro, as suas demandas, as suas expectativas, e com isso você ajudar essa pessoa ou ajudar esse conjunto de pessoas nesse processo. Essa astúcia social eu posso usar para o bem ou para o mal. Mas à medida que eu uso essa astúcia social para enganar as pessoas, para favorecer a mim mesmo ou favorecer a grupo que eu represento, isso não se sustenta no tempo. Mas, à medida que eu uso essa astúcia social para construir coisas positivas para as pessoas, isso vai claro tendo impacto grande na minha reputação. A outra questão é a influência interpessoal. Essa influência está muito associada à flexibilidade, mas não é uma coisa fácil, porque a flexibilidade implica eu ser flexível sem perder a minha integridade. Qual é a fronteira onde eu sou flexível, mas me mantenho íntegro? Não é algo simples. Outro aspecto importante é a construção de redes de relacionamento. E principalmente a gente faz essa construção a partir de trabalhos de interface, de aproximação. E finalmente é muito importante o que a gente chama de sinceridade percebida. Não adianta eu achar que eu sou uma pessoa realmente construtiva, cooperativa, flexível, se não é assim que eu sou visto, dessa forma que eu sou visto pelos demais. E claro que a forma como as pessoas me percebem é que vai definir o relacionamento delas comigo. Então, essas questões são importantes: a astúcia social, a influência interpessoal, a construção de redes de relacionamento e essa sinceridade percebida, como quatro grandes habilidades políticas. [SOM]